sexta-feira, 24 de julho de 2015

Para o meu querido!


Há exatos doze anos, o vovô Mario nos deixou aos 74 anos. Foi muito dolorido, só de me lembrar de como transcorreu o dia de sua partida, dói até hoje. Naquele dia, aos dezesseis anos, eu realmente descobri o que era saudade, o que era sentir aquele vazio, aquela sensação de fim de mundo, de silêncio interno. Foi a primeira vez que me vi deprimida de verdade, chorando pelos cantos e até sem me alimentar de tanta emoção, de sentir sua ausência.

O vovô Mario Triguero era o mais novo de dez filhos (se não perdi a conta). Era filho de um casal de espanhóis do Brás e ele mesmo enchia o peito para falar que tinha nascido no ''Brais’’. Sempre me recebia na casa dos meus avós ou quando nos falávamos por telefone com um ‘’Oi querida’’. Ele era o meu queridinho, porque a queridinha da minha irmã era minha avó, para não falar puxa-saco. Adorava uma cervejinha, uma Bavaria, assistia o jornal do Boris Casoy, ria de se matar assistindo Chaves e quando começava a propaganda eleitoral deixava no mudo ‘’assim não dá ibope’’, dizia.

Minha avó sempre o mandava lavar a louça, mas antes ‘’o vô vai dar uma descansada’’, depois ele voltava para lavar a louça. Reclamava de todas as pessoas do signo de aquário (o da minha avó) ‘’ que são terríveis’’. Tinha uma frase dele que eu amava e nunca vou esquecer ‘’Feliz foi Adão, não teve sogra, nem caminhão’’ e a forma de falar dele era muito engraçada. Eu adorava uma boina que ele tinha para usar no inverno e uma vez me pegou brincando com o guarda-chuvas dentro da sala da casa dele (dentro de casa de espanhol é proibido abrir guarda-chuvas, é sinal de má sorte). Todo aniversário ganhava uma pasta para trabalhar ou um guarda-chuvas novo, mas teve um ano que foi um carro e não se conteve de felicidade. O carro não era novo e isso era uma coisa que eu admirava demais nele e que me serve de lição até hoje, ele era totalmente desapegado dos bens materiais. Gostava de música, Andrea Bocelli, Luciano Pavarotti e assistia os calouros no Raul Gil. 

Meu avô era espírita. Infelizmente gostaria de ter aprendido mais da doutrina com ele. Pouco antes de falecer, me deixou dois livros do Chico Xavier de mensagens ‘’leia uma por dia’’. Um deles me parece que está até com dedicatória.Estão guardados com muito carinho.
O vovô Mario falava que sonhava em conhecer a Espanha. Quando faleceu, eu e minha prima Letícia dissemos que um dia faríamos essa viagem por ele. Há três anos, eu tive a oportunidade de ir à Madri a trabalho pela empresa. Quando soube da viagem não me aguentei de alegria, estava indo realizar o sonho dele. O avião pousou e no aeroporto mesmo, olhei para o céu azul e pensava ‘’Vô, tô aqui, vim realizar o sonho por você’’.

Ele vem me visitar às vezes em sonho. Conversa alguma coisa, em alguns momentos só olha e em outros ri, a mesma risada que nunca vou esquecer. Hoje agradeço demais a convivência dele na minha vida, por todas essas boas lembranças, faz muita falta, mas rezo para que esteja bem e cuidando de todos nós, onde quer que esteja meu querido! 

Verão de 2000 em Ubatuba, a Miucha acabava de chegar na família (saudades da pequena também).

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Viva São João!


E lá se foi mais um mês de junho. Aquele mês que a maioria dos mortais normais ‘’freia’’ as dietas para aproveitar as delícias juninas e se divertir nas barraquinhas (reparem que se não for citada a palavra dieta, parece que não fui eu que escrevi). Acredito que este ano bati o recorde, foram quatro festas juninas, o dobro em relação ao ano passado e a cada ano percebo as inovações realizadas em relação aos anos anteriores, além do aumento dos preços das iguarias juninas motivados pela forte crise que atravessamos. Nem a pipoca escapou do aumento, que dirá o espetinho de carne ou de chocolate com fruta, que gosto bem mais!
Em anos de Copa do Mundo, as festas juninas ganham telões e decoração verde e amarela, haja fartura e comemoração!

Todos os anos, não deixo de ir à festa junina da Vila Maria Zélia, uma antiga vila operária, localizada no bairro do Belenzinho em São Paulo. É um local que adoro, muito gracioso, com mesas disputadas, uma variedade enorme de delícias nas barraquinhas e é uma tradição minha todos os anos sujar a roupa e o cabelo com o óleo da fogazza de pizza (este ano não foi diferente). Embaixo da tenda onde se concentram as mesas e cadeiras, um palco é montado para pequenas atrações.  Este ano, o telão exibia o jogo do Brasil contra o Paraguai, pela Copa Sul-Americana no Chile, que mesmo depois do 7x1 contra a Alemanha no ano passado, deixou todos os presentes ligados no jogo. Finalizado com empate, a disputa seguiu para os pênaltis. A dupla sertaneja Cadu & Leo, que se apresentaria em seguida, estava ansiosa para começar seu show e subiu ao palco para arrumar os ‘’instrumentos’’, mas não quis facilitar a vida do telespectador da festa e colocou o violão bem na frente do telão e lá ele ficou.

A cada chute de pênalti, do Brasil ou do Paraguai, acompanhando de um ‘’ Gooool’’ ou ‘’uuuuuuuhhhh’’, também era possível ouvir ‘’ Tira o violão da frente’’. Além da narração que amamos de Galvão Bueno. Não tinha como não se divertir. Após mais um vexame brasileiro, finalmente a dupla Cadu & Leo subiu ao palco para cantar seus sucessos, mesmo que desconhecidos, animaram a todos e os mais empolgados ainda se mandaram para frente do palco afim de mostrar os passos ensaiados ao longo do ano. Os sucessos ganhavam coro, ainda mais os do Cristiano Araújo.


Continuo firme e forte nas aulas diárias de Zumba Fitness, já lavei o cabelo umas três vezes depois do ocorrido e a roupa já está limpa. Já estou me preparando para as festas juninas do ano que vem, com direito a fogazza, telão, risadas e quem quiser me acompanhar já está convidado!


quarta-feira, 17 de junho de 2015

A vida é muito mais, a vida de verdade é ser borboleta.


 A vida é muito mais que uma selfie, que uma foto da barriga chapada, que um post do look do dia no Instagram. É muito mais que a fulana beijando o fulano na balada, que as calorias contidas na embalagem de um produto, que o carro novo que seu vizinho comprou.

A vida de verdade é escutar aquela música que você ama no momento certo, o cheiro do livro novo quando aberto no passeio à livraria, o descobrir a caixa de cartas e revistas velhas guardadas e passar uma tarde descobrindo tudo aquilo que estava guardado, com uma pitada de nostalgia.

A vida de verdade é ver a superação das pessoas que você ama, uma caminhada ou corrida num campo verde, o cheiro da chuva molhando o mato, o entardecer de um dia ensolarado, colocar sentimentos no papel, dançar trancado no quarto com a música alta sem ninguém para ver.

A vida de verdade é rir da tempestade no copo d’água que já passou, rir do mico que pagou, do apelido de infância, do amigo imaginário, das palavras erradas, do seu inglês péssimo, mas necessário.

É chorar de saudade das pessoas que se foram, das situações que te emocionam, do final da novela mexicana ou turca, que mesmo com todo o dramalhão tem seu conto de fadas.
A vida de verdade é comer um brigadeiro ou uma colher de nutella sem culpa (mais que isso, vira ansiedade e não é bom).

Para que tudo isso aconteça, precisa voar longe, precisa ser borboleta, livre, leve, solta, cheia de cor, ou neutra para se camuflar das armadilhas diárias. Mesmo que a asa esteja amassada ou machucada, porque o vento bateu forte, não importa, ela ficou assim porque passou pelo que tinha que passar, porque viveu! 

sexta-feira, 8 de maio de 2015

A graça da vida (nos tempos de redes sociais)


    A graça da vida nos tempos de redes sociais, é ver os outros deprimidos, sem nada, sem alegria, se contentando com uma xícara de café, com a rotina imposta para viver, as contas para pagar, postando frases de amor, bom dia e boa noite no Facebook.
    É pensar que quem não te atrapalha é essa pessoa que não vive grandes ‘’emoções’’, que não viaja, não esbanja passeios, companhias badaladas, repaginadas no visual, mas apenas que pintou a unha daquela cor da super atriz da novela e que todos estão se matando de procurar nas perfumarias cidade afora o bendito esmalte dessa cor e não vale ser da outra marca concorrente.
   É ver os outros sendo amados pelo que lhe resta de família e bichos de estimação que acham graça em tudo na vida, independente do que você é, da roupa que veste, que não te abandonam, que te escutam e te entendem.
  É ter muitos bens materiais e admirar quem nada tem, porque tem respeito, educação e você frequenta lugares onde as pessoas não tem graça e muito menos respeito e educação.  A graça da vida é controlar os outros, frágeis, incontroláveis, que não sabem dizer não, que não se arriscam e a vida perde a graça quando se perde o controle, porque os incontroláveis passam a tomar as rédeas da sua vida, criam autoconfiança, vontade de viver e você perde o controle sobre elas. 

   Pode ter certeza que é melhor achar graça em si mesmo, com todos os defeitos, amores, imperfeições, animais de estimação a viver uma vida sem graça que só tem graça de não ver graça nenhuma na vida dos outros. 


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Andanças paulistanas no centro



   Confesso que quando vim trabalhar no centro da cidade, mais precisamente na região da praça da República, não gostei muito da ideia, mas como 60% das agências de viagens, operadoras  e algumas cias aéreas ainda permaneciam nesse pedaço da cidade, não tive muita escolha. Na época, poucos hotéis bons permaneciam abertos aqui, o prédio do Hilton, que já foi considerado o melhor do Brasil, apenas enfeitava a paisagem, contrastando com o cinza do edifício Itália, como já dizia Tom Zé em  A Briga do Edifício Itália e do Hilton Hotel,  ''O Edifício Itália ficou enciumado e declarou a reportagem de amiga: que o Hilton, pra ficar todo branquinho, toma chá de pó de arroz''. Apesar da ausência de música, o Hilton também contrasta com o cinza sujo, atualmente azul por causa da tela para fazer a manutenção, das pastilhas velhas do Copan. Já li que nossa arquitetura é esquisita, mas como adoro observá-la, quanta história me vem a mente. Se a vontade é tomar um vento na cara, bastar visitar o topo do Edifício Itália e contemplar a vista da cidade.


  Imagino o centro de outrora, o glamour que era tudo isso. A ausência de shoppings na década de 60 que fez com que os paulistanos se encontrassem na galeria Metrópole e Oscar Niemeyer, já muito antes do Shopping Cidade Jardim com sua mistura de prédios para morar e centro de compras, idealizou isso na galeria do Copan. Descendo um pouco na Ipiranga, gosto de observar o Edifício Ester. Há comparações com o seu vizinho lindo arquitetônico do outro lado da rua, o Caetano de Campos. O Ester faz o estilo básico, ''quadradão'', talvez já numa ideia de modernização da cidade, porém é nostálgico e escuro por dentro e não me peça para andar de elevador lá! 

  Do outro lado da praça, o Eiffel, aquele dos ''braços abertos'', tem uma vista linda da praça e foi projetado por Oscar Niemeyer também, mesmo com a ausência das curvas que caracterizam suas construções e que sou apaixonada quando ele mesmo disse que '' Não é o ângulo reto que me atrai... o que me atrai é a curva livre e sensual...''.

  Transitando pelas ruas bagunçadas, antes glamorosas, hoje cheias de ambulantes, gente louca que canta, prega, vende produto para lavar chão, penso que a Barão de Itapetininga já foi uma espécie de Avenida Paulista e que a Rua Marconi foi a primeira versão da Oscar Freire da cidade, lojas de roupas, alfaiates e modistas. A brincadeira do lencinho para paquerar nas imediações da Don José de Barros e sua primeira loja da doceria Dulca. No final de tudo isso o majestoso Teatro Municipal, contrasta mais uma vez com a arquitetura moderna do Edifício da Light, de forma inteligente, transformada em shopping. Gostoso perder uns minutinhos na Renner no piso térreo, observar as grandes janelas próximas do caixa, com vista para o Vale do Anhangabaú. O Edifício das Casas Bahia, antigo Mappin, sei lá, para mim perdeu a identidade, o Mappin era mais legal!

  Voltando para a Ipiranga, a esquina eternizada por Caetano Veloso já não me dá tanta graça, mas não encontrei nada ainda que descreva tão bem nossa confusão diária como Sampa. Entrando a esquerda, descobrir o Largo do Paissandú, a esquina faz até uma curva bonita e logo ali o charmoso Ponto Chique. Como é gostoso não sentir o tempo passar lá dentro enquanto respira e saboreia história. Continuando, o Paço das Artes, espaço diferenciado, mais um contraste de arquitetura, próximo do antigo Cine Marrocos, atualmente invadido. Uma pena a cidade perder mais uma opção de lazer com o fechamento desses cinemas de rua, espaços, vamos dizer, glamorosos (não consigo usar outra palavra). Um sonho ver todos restaurados e destinados ao lazer do paulistano mais uma vez, trazendo vida ao centro da cidade. Continuando, prédio dos correios, Martinelli, rua quinze de novembro, casinha de madeira fofa dos engraxates, comer um doce maravilhoso e sentir o aroma de açúcar na Casa Matilde.

  Trabalhar no centro é sentir a nostalgia de outros tempos que talvez eu tenha vivido em outras vidas, pois não encontro explicação para tanta paixão por esses lugares que fazem parte da minha rotina e outros que cada dia mais venho descobrindo. Mesmo com a modernidade dos carros transitando, do metrô, das pessoas em suas bicicletas e smartphones, tudo possui um jeito único e especial, mesmo que tenhamos certa insegurança com a existência dos moradores de rua, dos ambulantes, das prostitutas mais ausentes na luz do dia e outras coisas que por algum instante fazem perder esse charme.







quinta-feira, 2 de abril de 2015

Sion, sinônimo de saudade



  De uns anos pra cá, procuro não ser uma pessoa saudosista. Não é bom ficar preso às recordações do passado, embora ainda escutamos muito, dos mais velhos principalmente, que recordar é viver. As vezes recordar é sofrer, nos piores sentidos, de saudades do que não é bom lembrar, mas hoje, me dei o direito de ser saudosista e lembrar do que me fez crescer como cidadã, a escola. Abri minha bagagem emocional para lembrar do lugar que passei a maior parte da minha vida, que me fez aprender muito, rir, chorar, me esconder dos meus próprios fantasmas, fazer algumas poucas, mas boas amizades, me fazer ter boas lembranças e que jamais serão esquecidas!

  Em 1993 (faz tempo mesmo), ingressei na escola São Teodoro de Nossa Senhora de Sion (imagina escrever o nome todo no cabeçalho). Uniforme azul marinho e branco, tênis combinando (preto, azul marinho ou branco), escola grande, alfabetização no pré, professores legais, na quarta série descobrir que queria ser escritora, na quinta descobrir a minha paixão por História e cada ano o pessoal da minha sala inventava alguma brincadeira diferente. Se eu encontrar com algum deles hoje, com certeza lembrariam do ''esmaga'' na quinta (um monte de gente sendo esmagada na parede em fila), do apagador na sexta (a graça era empurrar o apagador na parede, para que caísse em direção ao lixo),  do ''pindura'' na sétima (um ferro em que os mesmos se penduravam, as vezes em muitos e uma fez foram tantos que precisou ser soldado de novo) e do vandalismo com o lixo em forma de palhaço na oitava série (que eles chutaram tanto que quebrou e não me recordo, mas acredito que tiveram que pagar outro). A pior parte para mim foi o Ensino Médio, além do aumento das responsabilidades, eu já dava sinais que as coisas não andavam bem, sofria de falta de concentração, me sentia isolada e me isolava sem saber o que estava acontecendo comigo, hoje talvez soubesse responder o que era, mas já passou e estou firme e forte. 

  O melhor mesmo é lembrar das coisas boas. Das minhas professoras Cláudia, Elaine, Rosangela, Cristina, Stela que dava Ciências na quarta-série, a Ana Paula e a Andrea de Artes, a Heloísa de inglês. Depois vem o Pedro e a Dinalva que eu amava as aulas de História e que me fizeram levar essa paixão para vida profissional também, a Leila, o Carlos e o Carlão de matemática que tinham a maior paciência com a minha dificuldade, a Márcia e o Jorge de Geografia, o Marquinhos de Ciências que também ensinou Química e Física, a Beth de Ciências, a Olisa, a Izilda e o Juvêncio de Português, a Andrea e a Denise de Espanhol, a Kátia de Educação Física, ufa!

  Da pra perceber que a minha bagagem emocional com as recordações do Sion é enorme, além das amizades feitas, das Sioníadas, dos treinos de vôlei, dos passeios que indiretamente me levaram a fazer análises dos locais que visitávamos e que me ajudou a escolher o Turismo. Acima de tudo, me tornar uma boa pessoa e claro, isso não seria nada se meus pais não tivessem investido. 

 No caso do Sion, recordar é viver e reviver momentos maravilhosos e que me fazem sempre lembrar uma frase que li uma vez pichada num muro:

'' Recordar um momento feliz é guardar no fundo do coração, um lágrima de saudade.''